É verdade caro leitor. Este pequeno jovem capitalista deixou a vida de luxo da função pública para tentar arranjar um emprego "a sério" (ou seja, fartou-se de ser escravo e foi ganhar guita que se visse).
O choque cultural foi grande. Existe com certeza muito a relatar, daria um grande post, mas vou optar por ir escrevendo aos poucos, publicando o que me vai passando pela cabeça, à medida que vou progredindo na carreira (uma palavra nova que conheci agora e da qual não sabia nada no meu emprego antigo).
Há ano e meio de função pública, o meu status era fodido. Coordenava algumas actividades, era responsável por alguns sistemas, até tinha uns estagiários a bulir para mim. Os altos conhecimentos e as amizades com os "boys" davam-me uma liberdade de movimentos e certos privilégios que foram difíceis de abandonar. O ordenado é que era o mesmo. E desde petiz que eu queria ganhar bem.
Assim, e motivado pelo ordenado estupidamente inflacionado que me estavam agora a oferecer (e que mesmo assim é bastante merdoso comparado com alguns tachos que há por aí), levantei-me com sorriso rasgado no meu 1º dia, bem antes da hora de entrada. O pequeno-almoço foi tomado em casa, com calma, duchezinho mensal tomado, barba feita à "gillete" com direito a cheirinho no fim e tudo. Meti-me no carro e enfrentei com boa-disposição uma das principais características do mundo empresarial: as filas de trânsito. 1 horita para chegar ao trabalho, bem diferente dos 5 minutos a que estava habituado.
A malta era impecável. Uns mais velhos, outros mais novos, todos ele(a)s muito fofo(a)s. Mas nem só de convívio vive um homem, e eu não me ligava à net à umas boas horas, os tremores começavam a aparecer.
"Vamos pedir acesso para ti." - Pedir?? Como pedir? Pedir a quem, carai?
"Aos espanhois acesso ao domínio, aos alemães acesso à net." - À NET?? TENHO QUE PEDIR??? NO SEC. XXI?? Foda-se, sabendo disto tinha trazido o portátil com uma puta duma placa 3g. Adiante.
Enquanto os acessos não chegavam, ia conhecendo os estagiários (todos sabiam mais daquilo que eu). Agora e ali, eu era o maçarico e notava-se bem.
O acesso à net, quando me foi facilitado, era retrógrado. Meus ricos tempos de linha analógica, a sacar a brutos 3 e 4 KBs do napster. Agora, não chegava à marca de 1 KBs, devido à merda de linha que tinhamos e que nos ligava aos espanhóis. E eu que sempre adorei espanhóis... Nunca esquecerei o que me disse um colega nesse dia: "Nós já moramos em Espanha, tu é que ainda não o sabes..." - Foda-se. Choque de realidade brutal.
E se a coisa tava mal, quando eu descobri que o messenger estava bloqueado, aí é que o desespero assentou. Pensei para mim mesmo: "Tem calma rapaz. É uma questão de tempo. Pensa na guita. Daqui a um ano já és boss outra vez..." - Pois, sim...
Ao final do dia, vá mais uma filazita de trânsito. Isto depois de arrotar 11 euros em estacionamento (ser maçarico é fodido). Chegar a casa 2 horas mais tarde que o habitual. Vai custar a habituar... mas mesmo assim, não foi mau demais.
E a partir do 1º dia, foi uma puta duma navegação ao nível do Vasco da Gama. Filas nunca mais, o caminho todo sabidinho, o estacionamento à borla ou pago pela empresa, a net já tá rápida, o msn já funca. O céu é de novo azul e os pássaros cantam a anunciar os ventos favoráveis que se adivinham.
Thursday, January 25, 2007
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