Friday, May 05, 2006

Ponte da Barca - O regresso

Tinhamos chegado à noite de véspera do regresso a casa, pedia-se algo especial. Ainda um pouco dorido da garganta de tanto ter gritado (e bebido) na noite anterior, sugeri que se cortasse um pouco no álcool, por forma a podermos ir dar uma volta até Braga depois de jantar. Assim foi. Jantar dentro de casa, uma vez que a noite estava um pouco mais fria que a anterior, sobremesa, 2 dedos de conversa sobre o Scolari e a convocatória do Ricardo, e finalmente, arrumar tudo para poupar tempo na manhã da partida.

Braga era um pouco longe para a hora que era quando terminámos, e então pensou-se que poderiamos dar um saltinho até o único bar de Ponte de Barca, e se a coisa até estivesse porreira, ficar por lá. Curiosamente, a mesma pessoa que deu a ideia, foi a primeira a dizer "vamos para Braga" quando chegámos ao bar.

O plano era simples: Apanhar a auto-estrada que liga directamente Ponte da Barca a Braga. Como era óbvio, elegeram-me o navegador. Mas essa foi uma daquelas noites em que o instinto teria dado melhor resultado que a inteligência. Antes da entrada na auto-estrada, circulavamos numa via rápida em excelentes condições, deserta (porque seria?), com placas a assinalar Braga a 44 km. Ora, com uma estrada daquelas, sem trânsito, a minha inteligência dizia-me para continuar, e poupar o dinheiro das portagens. Excusado será dizer que, mal passámos a saída para a dita, a via rápida se transformou num pesadelo de curvas, por entre localidades cheias de rotundas, com o chamado "piso suíço". Tinha terminado uma estrada e começado outra. Todos me criticavam por não ser vidente. E ainda agora tinhamos saído de casa.

Quase 1 hora depois, chegados a Braga, era uma questão de encontrar a zona que fazia daquela a "cidade mais jovem de Portugal". Após alguns minutos a ir para lado nenhum, encostámos ao lado de um jovem casal, para pedir direcções. A resposta foi pronta: "A esta hora (1h30) está tudo fechado ou a fechar!" - Isto poderia ter sido terrível, não chegássemos depois à conclusão, que o rapaz tinha dito à acompanhante que tudo iria fechar, por forma a poder consumar a sua jovem relação mais depressa. Obviamente, tinha que manter o cenário à frente dela, quando nos mandou dar uma volta.

Por esta altura, o gasóleo estava a acabar. Era preciso uma bomba. Após uma conversa com um tripeiro rechonchudinho, demos uma "granda bolta", mas ao fazer o contrário daquilo que ele nos tinha dito, lá demos com uma bomba (nem sei se era aquela à qual ele se referia). Nessa bomba as coisas começaram a melhorar. Um chavalo novo, de aspecto hip, estacionou na bomba à nossa frente. Dirigi-me a ele e perguntei-lhe: "Bares?". E ele responde: "Universidade". Não foi preciso mais. Depósito atestado, seguimos as placas que diziam "Universidade", que mais valia dizerem "Bebedouro". Num fininho e meio estávamos à porta de um bar na cidade mais jovem de Portugal. Ora ao que parece, os jovens de Portugal deitam-se cedinho, porque a senhora que nos recebeu à porta, ao invés de nos dar alguns dos 300 cartões de consumo que tinha na mão, disse-nos que o bar ia fechar, assim como todos os outros. Olhámos em volta e deparámo-nos com a veracidade da afirmação. Estava TUDO a fechar. Ainda nem eram 2h. "E agora?" - Pensámos. "Viemos de Setúbal para isto?" - Não. Avisam-nos que existe uma discoteca (por esta altura até fiquei admirado de conhecerem o termo) numa terra ali perto, chamada Lagar's. A moral estava em baixo. Alguns queriam era voltar para casa. "Mas... e as 50 rotundas que fizémos até aqui?" - Sei que a minha condição física corria um grande risco ao lembrar-lhes disso, mas o efeito foi o esperado. Voltámos aos carros e seguimos para a disco. Desta vez, deixámos o outro carro ir à frente.

Após mais uma volta inútil, passando por aquilo que provavelmente era o sítio mais díficil de achar em Braga, a zona dos engates, pedimos informação a um casal composto por 2 homens (...), que devem ter achado piada ao nosso amigo que os abordou, e quase lhe desenharam um mapa. Aí, as coisas melhoraram, e depois de falar com outro casal que (acho) lhe tentou cravar boleia, e mais um rapaz, já quase ao pé do destino, o moço lá nos levou à disco :)

Gostei dos porteiros. Enquanto barravam 4 gajos, por não terem mulher, mandam-me a mim e à malta toda entrar (6 gajos e 2 gajas, façam as contas). Ainda por cima eu ia à frente, o que normalmente é meio caminho andado para não passarmos da porta.

A discoteca era decente. Embora a hora e o sono já pesassem, o pormenor de não haver muito fumo e da comida contar para o consumo (fiz uma rima) conquistou-me. As gajas dançaram até às 5h, os gajos, na sua maioria, ficaram sentados. Foi como levar as crianças ao parque. Custou-me ter que ir lá e dizer "já chega meninas", mas era realmente tarde e a alvorada era às 9h.

A deliberação sobre como ir para casa foi unânime: "Auto-estrada!!!". Mais uma vez, a pressão de nos levar a casa recaiu sobre os meus ombros. E cumpri... até à saída para Ponte da Barca. A saída estava razoavelmente bem assinalada, a 1700 m já tinhamos a primeira placa. A distância foi diminuindo, e avisei o condutor: "Encosta à direita. (...) Encosta à direita. (...) Direita!" E ele encostou... Mas não virou. Em cima da saída, a cor da placa para Ponte da Barca muda de azul, para branco. Às 6h da manhã, isto é o suficiente para lixar a cabeça a um gajo. E lá ficámos, parados na auto-estrada, uns metros depois da saída. "Menos mal, faz marcha-atrás" - Disse. Ele assim fez. Mas a condutora do Honda (o outro carro) lembrou-se de ter um ataque de consciência e recusou-se a parar na auto-estrada, seguindo caminho. No meio de nenhures, de madrugada, sem termos visto um único carro o caminho todo, o medo de ser fotografada por satélite e multada foi mais forte.

A situação em si já não era boa, mas foi quando nos lembrámos que ambas as chaves de ambas as casas estavam no carro que seguiu rumo ao desconhecido, que o desespero nos atingiu. Chegar a casa e ter que ficar à espera da menina bem-comportadinha ia custar a engolir. Mas por acaso, e nessa noite, a parte em que mais se riu foi durante o período de espera à porta de casa. Não perguntem porquê. Já não me lembro. Mas conhecendo-me a mim e aos 3 marmanjos que iam comigo, não se deve ter aproveitado nada.

Algum tempo depois, chegam os "perdidos", vindos de Paredes de Coura. Podiamos ir dormir. Estava de tal forma que nem me lembro como é que consegui chegar à cama.

A manhã seguinte foi de ressaca. Não de álcool, mas de um fim-de-semana em cheio e de uma noite longa. Os condutores tiveram direito a dormir mais um pouco, mas a meio da manhã, estavamos no caminho de volta. A palhaçada no caminho foi igual à da ida, até deu para passar a máquina fotográfica de um carro para o outro a 100 km/h para todos ficarem nas fotos.

Parámos em Aveiro, para ganhar forças com um bom almoço (e foi, sem dúvida, muito bom), e ficar assim a conhecer mais uma bonita cidade, mais precisamente a zona do fórum (vá onde for, vejo-me sempre metido em centros comerciais) e do centro, atravessado por um canal onde é possível passear de gôndola.

Como é óbvio, não podia faltar o abastecimento de ovos moles. Eu não sou apreciador de doces regionais, prefiro as tortas da dan cake, mas um comentário do rapaz-da-toalha-de-bidé levou-me a mostarda ao nariz: "Agarrado do caraças, nem sequer levas uns ovos para a tua Maria!" - Como eu fiz questão de mencionar, a sua alma está condenada a arder no inferno. Mas acabei por trazer aquilo. Ironia das ironias, a minha Maria não gosta de ovos moles, a minha mãe diz que está gorda e acabo por ser eu a ter que malhar aquilo.

Foi uma das últimas paragens da nossa viagem. Chegámos a Setúbal por volta das 21h. Foram umas mini-férias memoráveis, pelo menos na minha opinião, e nem o facto de não termos assistido a um beijo entre as duas raparigas pode estragar isso.

1 comment:

kriaxpatala said...

Qual quê, foi na boa :)

Aquilo realmente domina muito.

Última vez que fui a Grândola tavas em Beja, num feriado, boémio do caraças.

Abraço.