Wednesday, June 15, 2005

A história de um F.P.

09h40. Estou no trabalho. Não se faz um cu. Sento-me a olhar para o telefone e penso:
"Será que vai tocar? Alguém com um caso para eu resolver? Algo que faça subir a adrenalina neste dia de tédio?"

Não. Não toca. Nunca toca. É dificil manter-me desperto. Os meus sócios inventam o que podem, para se manterem ocupados. Departamento com 5 FP's, mas parece o gabinete de 15 donas de casa. Está tudo limpo. Nem uma mancha para limpar. E lembrar que se chegou a pensar que nunca iria haver tempo para jogar o lixo todo fora. Que ingenuidade.

De repente, alguém entra. "Alguém com um caso para resolver", penso. Mas não. Veio deixar um documento, de importância tal, que é jogado para cima de uma secretária, com o desprezo de alguém que nunca mais iria olhar para ele.

Telefone toca. Ninguém quer acreditar. Agora é decidir, à sorte, quem se irá ocupar de resolver, qualquer que seja o problema do outro lado. 5 minutos de conversa, plena de suspense, passam. E... cá estamos. Na mesma. Falso alarme.

A malta conversa. Há que manter o astral. De bola, de cinema, de música e, ironicamente, de trabalho, como se alguém aqui soubesse o que era isso.

Ligo o rádio. Passa uma música light, bastante audível, de autor desconhecido. Música que, ao certo, alguém alguma vez classificou como "música que emana boa disposição". Burro do caralho.

Muito perto de ceder ao desespero, vou-me entretendo a observar o nível duma garrafinha que guardo na gaveta da secretária, a descer.

"É a época baixa", penso. Daqui a não muito tempo, tudo isto será apenas uma mísera recordação. Ao mesmo tempo penso se não me estarei a iludir. Se os meus tempos de longas noites em claro, a resolver casos sem descanso, terão terminado. E penso no que passei para chegar aqui. Tanto para... nada. É o que eu faço.

Sou F.P.

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