Thursday, March 01, 2007

Uma tarde na cidade

Pois é carissímos leitores, em Lisboa, este fim-de-semana diverti-me à grande com um grupinho de amiguinhos novos, gente sensível, e a quem dedico esta forma bem querida de escrever... ou não.

Não, na prática são cabrões como todos os outros, bem ao meu nível, e se assim não fosse, nem sequer tinha piada. Então, e começando pelo início, este foi mais um encontro com pessoal da net (levei um pequeno arsenal na mala do carro, como sempre o faço nestes casos, desde a caçadeira do meu pai até às tesouras de costura da minha mãe), ao qual compareci com estúpida pontualidade (o único borrego a estar a horas no sítio, para não variar), desta vez de um canal da ptnet, o #divxftp (nada a ver com filmes sacados ou qualquer outro tipo de ilegalidade, que me caia já aqui em cima
a actriz que faz de Grey se eu estiver a mentir).

O primeiro caramelo a aparecer, pasteleiro de profissão (e se gostaram desta, esperem até chegar ao outro, de baixa à um ano, à espera de ser operado, mas entretanto continuou a jogar à bola, etc.), transbordava cenário com o seu visual dark metal (embora só oiça martelinhos), cheio da correntes e merdas, segundo ele, feitas à medida. Delirei à brava. Mas impecável o chavalo, pecou ao não levar o prometido pastel de nata, mas a imagem mental dele de barrete de pasteleiro e batinha branca foi suficiente para a malta esquecer a fome.

Esperámos os 2 uns 15 minutos, sempre na conversa - o gajo era igualzinho ao que era na net, granda porco ahah - até que chegou o 2º personagem. Este era um imigrante português, de bigode rapado para disfarçar (embora não tenha dúvidas que lá fora, ostenta o dito com orgulho e imponência), oriundo da parte norte do continente americano, e como tal, odeia o bush, os EUA e tem um medo do FBI que até o messenger dele é encriptado. A profissão deste senhor é freelancer, ou seja, é profissional do não-fazer-cú, por conta própria. Sei por experiência que o gajo é fodido na informática (daqueles reles sem curso superior de engenharia que sabem mais disto que eu hmpf), amante do open source (perdi aqui 200 000 leitores confundidos já) e crítico atento das políticas de condicionalismo aplicadas à bruta. Um autêntico hippie cibernauta. De referir ainda a perfeita dicção do seu português, ganhou visivelmente com a vida lá fora, uma vez que não foi corrompido pelo português "dos morangos" que se fala agora por cá.

O último bacano, o mais novo, já era meu conhecido da bola (mostrei-lhe duas ou três coisas nas vezes que jogou contra mim), é o tal que meteu baixa à um ano para ser operado à cerca de 2 semanas. Sujeito alto (quase 2 metros), de porte clássico, brilhantemente disfarçado com o trabalhado look mitra, típico dos jovens de hoje que gostavam de ser do gueto, chegou ao meet no seu bólide rebaixado, de vidros fumados, com os 150 cavalos alimentados a gasolina 98, excelente para a cidade. O rapaz vinha acompanhado da sua dama, como quem diz, uma rapariga que também parava no canal na sua juventude mais imprudente, mas que depois ganhou juízo e percebeu que não estava ali a aprender nada de jeito. Todos concordaram imediatamente que ela era boa demais para ele.

Depois de todas as apresentações feitas, e a luta para arranjar estacionamento legal terminada, o pasteleiro queria agora pegar nos carros e ir até algum lado (qualquer distância acima dos 100 metros era demais para ir a pé) perder novamente 1 hora a arranjar lugar para estacionar, mas sem saber sequer exactamente para onde, estava apenas a evitar de toda a maneira atravessar a estrada que nos separava dos cafés (30 metros de alcatrão, mais 10 metros de passeio de cada lado, ida e volta = 100 metros a pé). A malta insurgiu-se e lá fomos a andar os 5, rumo aos armazéns do chiado, para comer qualquer coisa... barata. O cansaço foi tal que tivemos que nos sentar todos, já nos armazéns, a menos de 20 metros (depois de andar 1 km) do sítio onde iamos comer, durante 2 minutos. Passado esse tempo, com novo fôlego, lá arrastámos o cu para a mesa onde seriamos servidos, uma deslocação semelhante à de sair do quarto para ir para a cozinha jantar. Brilhante.


O jantar foi animado, com o pasteleiro a pedir uma coca-cola light, das coisas mais metro-sexuais que já vi, um homem feito, 1,80 m e 90 kg de músculo puxado a ferro, a pedir uma coca-cola light, mas pronto, cada um sabe de si. Eu também tenho a mania de pedir sumos sem gás, sa foda. Adiante.

Os tópicos de conversa foram variados, normalmente tudo um pouco voltado para as nossas vidas online, com o americano bastante caladinho, simplesmente não é a mesma coisa sem um computador. Deviamos ter ido todos para um ciber teclar uns com os outros. A rapariga a mesma coisa, mas acho que essa era mais vergonha pelo visual do namorado.

O ambiente estava porreiro, o grupo era simpático. Tanto que demoraram quase 2 horas até me chamarem taliban, devido ao meu muito invejado bronze natural. Durante toda a noite nem se ouviu o habitual comentário "quéfró" dirigido à minha galante e educada pessoa e termos discriminatórios como "monhê" não chegaram sequer a ser usados. Um muito obrigado, desde já!

Foram quase 3 horas de jantar, parece-me, algo que não é nada habitual em mim, que gosto de sentar, comer calado e levantar. Estava um socialóide nessa noite.

Depois de jantar, fomos até ao bairro alto em busca de um café ou bar para praticar o chamado "estar o máximo de tempo sentado consumindo o mínimo possível", mas ao que parece a coisa agora está mais para os restaurantes. O tráfico de droga, esse, continua em pleno, com alguns 20 ciganos posicionados estrategicamente a oferecer ganza (por enrolar, vergonha de serviço) a todos os transeuntes (desabafo - epá, não estou a ser racista, eram ciganos a vender droga, não eram brancos nem pretos, eram ciganos e estavam a vender droga, são factos, e vão-se foder se acham que isto é racismo, eles é que tavam a vender DROGA e não eu ou os outros - fim de desabafo). Assim, acabámos por ir até uma gelataria, sa foda o alternativo, esteve-se lá muito bem, a comida era toda boa, arrisco até dizer que foi o melhor chá de limão que bebi na vida. E quando o pasteleiro se ofereceu para pagar tudo, ainda soube melhor (o gajo era lá cliente habitual, meio mitra também, daqueles que arranjam telemóveis de 600 euros a 50, provavelmente até teve desconto ou algo, ou se calhar já tem este esquema todo de levar lá malta para provar aquelas maravilhas e depois o pessoal fica agarrado (eu da próxima vez estou lá, sem dúvida), se calhar até RECEBEU dinheiro e o pagamento da conta foi só fogo de vista).

Em suma, uma tarde/noite muito bem passada, com mais alguns conhecimentos adquiridos, rumo ao meu objectivo de ser primeiro-ministro (estou numa de conhecer o maior número de pessoas possível, já tenho 50 e tal amigos no hi5), e com uma ambição assim, tenho mesmo que aproveitar estas oportunidades para fazer amiguinhos!

No comments: