Sunday, October 17, 2004

Os malefícios da morte

Eu que até sou um tipo, a quem a vida não lhe corre mal, dei por mim deitado, sem sono, a pensar na morte. As conclusões a que cheguei, são dignas de ficarem imortalizadas aqui, pelo menos até os servidores da blogspot.com irem com o caralho.

Reparei, através de alguns funerais a que assisti e dos meus sentimentos pessoais, que a pessoa que menos nos faz falta, ou por outras palavras, a pessoa que menos nos importamos que faleça, somos nós mesmos. A angústia que se sente quando se pensa que se pode perder alguem querido, é muito superior àquela que sentimos quando nos apercebemos que, mais tarde ou mais cedo, bumba, já éramos.

Exemplo prático: Eu, não sendo exemplo algum de coragem ou bravura, tenho medo de andar de avião. Porquê? Sou engenheiro, percebo perfeitamente as leis que mantém o aparelho no ar. No entanto, também sei que, cada vez que entrar num avião, vou estar a aceitar bula dum caramelo que nunca vi na vida, nem tão pouco posso atestar quanto à sua sanidade mental. E se o filho da puta lhe está a correr mal o dia? E se lhe telefonaram durante o vôo a dizer que a mulher lhe põe os cornos? Ou se for do Sporting? Tudo razões que podem levar alguém menos lúcido a espetar o avião com o focinho no chão. E quero lá eu morrer porque o Peseiro não é posto na rua.

Continuando. A minha namorada adora viajar. Já o fez sem mim, por motivos profissionais, e se eu não a quiser acompanhar, com certeza que o fará por motivos de lazer. Agora, por maior que seja o meu medo que aquela merda caia connosco lá dentro, maior é ainda que a desgraça aconteça só com ela, e eu fique cá para contar como é. O meu pai farta-se de andar de avião, e diz que cada vez tem mais medo daquilo. Foda-se, quem sou eu para contradizer a voz da experiência.

Mais conclusões: Quando choramos a morte de alguém, parece-me que apenas uma pequena parte da dor é causada pela saudade da pessoa, e que a outra parte é causada pela nossa percepção de como vai ser a NOSSA vida sem ela. Não comento esta ideia, porque nunca passei por isso. Por enquanto apenas posso presumir. O futuro o dirá se tenho ou não razão.

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